Você está se sentindo frustrado, confuso e com raiva? Eu também. Nunca é certo falar sobre Deus e política com as pessoas (ops), mas neste momento, as conversas políticas parecem ser especialmente frustrantes e emocionais. Tudo o que podemos ver neste momento são dois partidos, duas plataformas, duas perspectivas.
Mas e se estivermos faltando alguma coisa? E se houver uma revolução acontecendo à vista de todos, mas nós a perdermos?
Às vezes, o que podemos ver não é a história completa. Às vezes o que parece fraqueza é força. Às vezes o que parece derrota é vitória. Às vezes, o que parece uma execução é algo muito maior.
Olhando para o Sermão da Montanha e os últimos dias de Jesus quando ele foi crucificado, poderemos ver o quadro geral se estivermos dispostos a abrir os olhos.
O desentendimento de Jesus com a política
Naquela que é amplamente considerada a maior mensagem já pregada, Jesus Cristo proferiu o Sermão do Monte a uma grande multidão reunida na encosta de um monte. Jesus demonstrou tanto seu brilho quanto sua autoridade espiritual para trazer um novo ensinamento ao povo. Várias vezes Jesus afirmou: “vocês ouviram isso… mas eu digo…” Jesus estava ensinando como alguém com autoridade e as pessoas ficaram maravilhadas. Vamos nos concentrar em uma pequena parte desta mensagem.
Matthew 5: 38-44 – “Vocês ouviram o que foi dito: ‘Olho por olho e dente por dente’. Mas eu lhe digo: não resista a uma pessoa má. Se alguém lhe bater na face direita, vire-lhe também a outra. E se alguém quiser processá-lo e tirar sua túnica, deixe-o ficar com sua capa também. Se alguém forçar você a caminhar um quilômetro, vá com ele dois quilômetros.
Dê a quem lhe pede e não se afaste de quem lhe quer pedir emprestado. Vocês ouviram o que foi dito: ‘Ame o seu próximo e odeie o seu inimigo’.
Mas eu lhes digo: amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem”.
O clima político durante a vida e ministério de Jesus era extremamente volátil e perigoso. O Império Romano havia invadido Israel e era uma força de ocupação. O rei Herodes e outros famintos de poder e riqueza venderam-se aos romanos e trabalhavam essencialmente para eles. Para o judeu médio, havia um profundo ódio e raiva contra ambas as forças políticas do seu tempo. Jesus estava trazendo esta mensagem para um ambiente muito hostil.
Jesus começa esta seção de ensino refutando um ensinamento comum da época, o de retribuição pessoal. Se alguém ofender você, você tem o direito de buscar justiça e ver a punição adequada ao crime. Jesus está adotando uma abordagem radicalmente diferente.
Mateus 5:39b – Se alguém lhe bater na face direita, vire-lhe também a outra.
Vejamos isso por um minuto. A maior parte do mundo antigo era destra. Se eu desse um tapa na sua cara com a mão direita, em qual bochecha eu bateria? A bochecha esquerda. O que o versículo diz? A bochecha direita. Como isso funciona? Funciona se for um tapa com as costas da mão. Um tapa com as costas da mão era uma forma muito insultuosa de ofender alguém. Foi condescendente. Nos dias de Jesus, a pena legal era uma multa dupla.
O que Jesus diz para fazer? Depois de receber o golpe condescendente na bochecha direita, levante-se e ofereça a esquerda. Você está dizendo ao agressor, me bata de novo, mas desta vez de igual para igual. Eu não sou menos que você.
Mateus 5: 40 - E se alguém quiser processá-lo e tirar sua túnica, deixe-o ficar com sua capa também.
Este é um caso ridículo para um tribunal. A juíza Judy descartaria o caso imediatamente. Aqui está o que está acontecendo neste cenário: o processo envolve alguém que está tão empenhado em cobrar uma dívida que está tirando tudo o que o réu tem. De acordo com a lei, o único bem que nunca poderia ser tirado de alguém é o seu manto exterior. Era para não ser apenas a jaqueta externa, mas também servir como uma espécie de cobertor nas noites frias para quem estava sem teto. O demandante sabia que não conseguiria a capa, então ele pegou o máximo que conseguiu. Tratava-se de uma ação judicial que visava tirar a cueca do homem!
O que Jesus diz ao público para fazer quando isso acontecer? “… deixe que ele fique com sua capa também.” O pandemônio segue com o juiz batendo furiosamente o martelo em resposta ao homem subitamente nu no tribunal.
Mas ainda assim, qual seria o real efeito desta ação? Serviria realmente para revelar a ganância nua e crua do demandante. Ele prefere humilhar e envergonhar outra pessoa do que perdoar uma pequena dívida. Ao fazer isso, a humilhação e a vergonha recaem sobre o homem ganancioso. O réu surge como uma figura simpática, vitimada por um sistema falho alimentado pela ganância pura e simples.
Mateus 5:41 – Se alguém forçar você a caminhar um quilômetro, vá com ele dois quilômetros.
Havia uma prática no mundo romano chamada “comando”, onde um soldado podia forçar as pessoas a carregarem sua mochila pesada por um total de uma milha romana (não a nossa milha – literalmente 1,000 passos). Como você pode imaginar, isso não era popular entre as pessoas. Mais ou menos como um policial de um filme que mostra seu distintivo e leva o carro de alguém para uma importante cena de perseguição. Este foi um ato humilhante para alguém que é pressionado a servir. Imagine que você está passando um dia com sua família, cuidando da sua vida, e algum soldado romano bêbado, arrogante e fedorento grita para você carregar as coisas dele. Não é bom.
O que Jesus ensina seu público a fazer? Dê mais 1,000 passos. Vá mais uma milha. De boa vontade.
O que isso mostra para a multidão que assiste? Generosidade. Força. Dignidade. Auto-controle. Você está escolhendo homenagear este soldado como um homem livre pela segunda milha.
Matt. 5:42 – Dê para quem lhe pede e não se afaste daquele que quer lhe pedir emprestado.
Isto se refere a doações generosas e generosas. Sem compromisso de doação. Dar sem esperar ser retribuído, nunca. Doação não designada. Não dar com uma ordem lateral de julgamento e opinião.
Jesus continua seu ensinamento apresentando algumas instruções muito controversas:
Matt. 5:43-44 – “Vocês ouviram o que foi dito: ‘Ame o seu próximo e odeie o seu inimigo’. Mas eu lhes digo: amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem”.
O ensino teológico dominante na época envolvia amar a família e os amigos e odiar os inimigos. Isso foi visto como totalmente compatível com um relacionamento com Deus. Jesus pega um ensinamento comum da época e o vira de cabeça para baixo. Chega de amar o próximo e odiar o inimigo.
Ame os odiados romanos. Ame o soldado desbocado. A palavra grega para amor é na verdade “ágape”, o amor mais elevado e sacrificial que existe. Devemos amar e orar por nossos perseguidores. Enquanto somos espancados, chicoteados e destruídos, oramos por aqueles que infligem a dor.
O Sermão da Montanha abalou a multidão naquele dia e continua a causar um enorme impacto nos corações até hoje. Mas o desafio de Jesus naquele dia não foi apenas para os ouvintes, ele os colocou em prática de uma forma poderosa. Se quisermos fazer a diferença neste mundo, precisamos ser como Jesus. Vamos examinar mais de perto suas últimas horas na Terra enquanto procuramos ser mais parecidos com ele.
As últimas horas de Jesus
Depois que Jesus foi traído por Judas, Seus discípulos se dispersaram e Jesus foi arrastado para um julgamento diante do Sinédrio no meio da noite. Repetidas vezes, à medida que acusações falsas eram feitas contra Ele, a Bíblia diz que ele levou um tapa e lhe ofereceu o rosto e as costas para mais punição. (Mateus 26:67; Isa. 50:6).
Jesus foi levado sob custódia pelos soldados, onde eles zombaram dele e o despiram antes de ser espancado. Suas roupas foram tiradas dele, seu manto e sua túnica, e os soldados lançaram sortes para mantê-los (João 19:23-24).
Depois que Jesus foi espancado e condenado à morte na cruz, Simão, o Cireneu, foi “pressionado a servir” para carregar a cruz por Jesus. Simon obedeceu ao comando do soldado. Ao fazê-lo – a história recorda-o como um homem com generosidade, força, dignidade e autocontrolo.
Enquanto Jesus está morrendo na cruz, há ladrões de cada lado dele. Alguém reconhece Jesus como Senhor e pede a Jesus que se lembre dele no reino de Jesus. No meio da morte mais dolorosa que se possa imaginar, Jesus dá a quem lhe pede e não o rejeita. “Hoje você estará comigo no paraíso.”
Durante a sua crucificação, Jesus demonstra amor pelo mundo, mas também demonstra amor ágape pelos seus “inimigos”. Ele diz: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que estão fazendo”. Jesus está perdoando soldados que sabem exatamente o que estão fazendo. Eles executam criminosos para ganhar a vida. Jesus está revelando que esses soldados não têm ideia do que realmente está acontecendo durante a crucificação. Há muito mais acontecendo.
Quando Jesus morreu, parecia que Ele havia falhado. Outro messias judeu fracassado. Outro revolucionário fracassado. Que morte humilhante. Que espetáculo do poder de Roma e da fraqueza de Jesus.
Mas no livro de Colossenses há um resumo diferente do que acabara de acontecer.
Cl 2:15 – E tendo desarmado os poderes e autoridades, ele fez deles um espetáculo público, triunfando sobre eles pela cruz.
Havia algo muito maior acontecendo. Maior que o poderoso poder político dos romanos. Maior do que qualquer um poderia ver ou entender. Mas havia ainda mais coisas acontecendo na cruz... O livro de Marcos foi escrito para os gentios (não-judeus) durante o auge do Império Romano. Seu relato da crucificação de Jesus teria soado muito familiar.
Quando chegou a hora de coroar um novo César em Roma, houve uma cerimônia especial, chamada Triunfo. Esta cerimônia era bem conhecida no mundo antigo e teria sido muito familiar para o público-alvo do Evangelho de Marcos. Foi assim que aconteceu:
- – A Guarda Pretoriana (6,000 soldados) reunida no Pretório. O aspirante a César foi trazido para o meio da reunião.
- – Os guardas foram ao templo de Júpiter Capitolino, pegaram uma túnica roxa e colocaram no candidato. O candidato também recebeu uma coroa de folhas de oliveira feita de ouro e um cetro para a autoridade de Roma.
- – César foi proclamado ruidosamente como triunfante pela Guarda Pretoriana.
- – Começou uma procissão pelas ruas de Roma, liderada por soldados. No meio estava César. Caminhando atrás dele estava um touro sacrificial, cuja morte e sangue marcariam a entrada de César no panteão divino. Caminhando ao lado do touro estava um escravo, que carregava um machado para matar o touro.
- – A procissão deslocou-se para a colina mais alta de Roma, o Capitoleno (colina principal). Nesta colina fica o templo do Capitólio.
- – O candidato ficava diante do altar do templo e era oferecido, pelo escravo, uma tigela de vinho misturada com mirra. Ele aceitou como se fosse aceitar e depois devolveu. O escravo também recusou, e então o vinho foi derramado no altar ou no touro. Logo após o vinho ser servido, o touro foi morto.
- – O futuro César reuniu seu segundo em comando à direita e seu terceiro em comando à esquerda. Então eles ascenderam ao trono do Capitólio.
- – A Multidão aclamou o imperador empossado. E para o selo divino de aprovação, os deuses enviavam sinais, como um bando de pombas ou um eclipse solar.
Esta coroação não foi apenas uma forma de aclamar o novo governante do Império Romano, mas também uma forma de proclamá-lo como um deus. César passou a ser adorado no império, e esta foi a cerimônia na qual ele se tornou uma divindade e também um governante humano.
Agora ouça a maneira como Marcos apresenta a história da crucificação de Jesus. Num momento em que o criminoso derrotado e desarmado será humilhado ao caminhar pela cidade num espetáculo constrangedor, algo muito maior estava acontecendo. Algo que ninguém podia ver.
Lembre-se de como um César foi coroado ao ouvir o relato de Marcos sobre a crucificação:
- – Jesus foi levado ao Pretório em Jerusalém. E toda a companhia de soldados (pelo menos 200) se reuniu ali.
- – Os soldados trouxeram para Jesus uma coroa (de espinhos), um cetro (um bastão velho) e um manto roxo.
Sarcasticamente, os soldados aclamaram, zombaram e prestaram homenagem a Jesus. - – A procissão começou. Mas em vez de um touro, o pretenso rei e deus tornou-se o sacrifício, o touro. Mas ele não poderia carregar o instrumento da morte e ser o sacrifício. Então eles pararam Simão, o Cireneu, e lhe entregaram a cruz.
- – Jesus foi conduzido ao Gólgota (em aramaico – significa “colina principal”).
- – Foi oferecido vinho a Jesus e ele recusou. Logo depois, eles o crucificaram.
- – Em seguida veio o relato daqueles à sua direita e à sua esquerda (não pequenos criminosos, a palavra usada em grego, lestes, significa terrorista ou insurrecional).
[1] esta seção foi agregada do Dr. Ray Vanderlaan, followtherabbi.com, Jesus for President, de Shane Claiborne, e do comentário de Robert Gundry sobre o livro de Marcos.
Cl 2:15 – E tendo desarmado os poderes e autoridades, ele fez deles um espetáculo público, triunfando sobre eles pela cruz.
Quando tudo parecia perdido e a situação política estava no seu pior, havia um plano maior em ação. Pense em como os seguidores de Jesus teriam se sentido desesperados naquele momento.
E ainda assim, não foi uma derrota. Foi uma coroação do Rei dos Reis. Foi o maior ato de amor e graça que o mundo já conheceu. Foi o poder aperfeiçoado na fraqueza. Foi a outra face virada. Foi a entrega do manto. Foi a milha extra percorrida. Foi o presente dado abertamente. Foi amor por seus inimigos. Foi uma oração por seus perseguidores.
É assim que se parece o verdadeiro poder. É aqui que nos encontramos agora. Muitos na igreja se sentem desamparados, perdidos, impotentes e fracos. Bom. O verdadeiro evangelho de Jesus Cristo prospera nesse tipo de ambiente.
– Cliff Johnson | Kensington Birmingham, pastor principal